sexta-feira, 23 de novembro de 2012

LIGA DA JUSTIÇA # 10 – Qual é o truque, Geoff Johns?


Resenha de Liga da Justiça 10, de Geoff Johns,  Jim Lee e Scott Williams (roteiro, desenhos e arte final de Liga da Justiça) e Geoff Johns e Gary Frank (roteiro e desenhos de Shazam).
Contém spoilers revelações sobre a história.


David Graves estava à beira da morte quando decidiu se aventurar pelo estranho caminho do Monte Sumeru, onde conseguiu a façanha de encontrar antigos deuses caídos e extremamente rancorosos. Mas eles não lhes fizeram mal, ao menos de seu ponto de vista. Eles amaldiçoaram Graves com dons malignos e o libertaram para que concretizasse sua vingança contra aqueles que mais odeia… a Liga da Justiça.
Essa é a “Jornada do Vilão”, um NOVO vilão, diga-se de passagem, mas que até o momento não mostrou nada que já não tivesse sido tentado pelo Chave, Destino, Prometheus e outros clássicos inimigos da Liga. O QG foi invadido, eles foram rendidos, derrotados e jogados aos pés de Graves. Spoilers. Vocês foram avisados.

Até mesmo a reinterpretação de um clássico precisa conter em sua fórmula algo que estimule e surpreenda os leitores; a repetição em si não é uma coisa ruim. Ela serve de alivio para a mente criativa dos autores, é claro, mas também abre uma janela de novas oportunidades a serem exploradas dentro do tema previamente apresentado. Não é fácil escrever uma boa história do Superman. Não que seja impossível, mas trata-se de uma árdua tarefa para qualquer autor, proporcionar identificação do personagem com os leitores e ameaças críveis para enfrentar o “homem que tem tudo”. Já li algumas HQs esplêndidas onde as bases morais do Homem de Aço não apenas podem como devemservir de inspiração para os leitores na vida real. Essa identificação de caráter é o que faz o personagem ser dono de uma vasta legião de fãs. Mas o problema persiste quando o autor lembra que o Superman não é apenas o herói altruísta detentor de inabalável padrão moral; ele é também protagonista de uma série de HQs que precisam estar repletas de aventura do começo ao fim. Então, para combater o Superman, são criadas algumas das mais esdrúxulas ameaças, e exploradas exaustivamente as suas mesmas fraquezas. Eventualmente alguns bons autores se dão ao trabalho de fazer algumas histórias marcantes, com o uso inteligente da mitologia do personagem, resgatando elementos clássicos, tidos hoje como extremamente pueris, e transformando-os em sucesso instantâneo de público e crítica.

É muito difícil escrever boas histórias para o Superman, que é quase invencível. Imagine então o quanto é penoso criar uma boa história com uma equipe repleta de superseres…
O que nos traz de volta a Liga da Justiça.
Geoff Johns é um bom escritor, que contribuiu muito positivamente para os quadrinhos de forma geral nos últimos anos, revitalizando alguns personagens importantes que passavam por fases muito ruins ou a beira do esquecimento. Sociedade da Justiça, Flash, Lanterna Verde e mais recentemente Aquaman e Shazam são alguns exemplos de bons trabalhos realizados.
SHAZAM, que por sinal é publicado na revista da Liga em uma série de histórias curtas, está sendo uma das leituras mais agradáveis e instigantes do universo de super heróis da DC. Também escrita por Geoff Johns e com desenhos deslumbrantes de Gary Frank, é a retomada do melhor da essência do Capitão Marvel, destilada em sua mais aprazível versão. É exatamente o que eu estava falando antes sobre o que a reinterpretação de um clássico precisa ter. Onde ele peca na Liga, surpreende e excede expectativas em Shazam. Johns escreve com um cuidado meticuloso; ele está trazendo de volta Billy Batson como detentor do poder Shazam, e realocando toda a sua extensa gama de personagens coadjuvantes de forma que todos ganham destaque e importância na história. E isso inclui desde a nova família de Billy (e até seu tigre), com direito a novos membros e até os vilões que interagem e passam a fazer parte da história um do outro como nunca antes. Um bom exemplo disso é o fato do Dr. Sivana, cientista e explorador, ter descoberto a tumba do Adão Negro. (NOTA: O correto é mesmo SIVANA. “Silvana” foi uma infeliz alteração feita no nome do personagem ao adaptá-lo ao português). Cada ação do enredo de Johns é muito bem amarrada e avança a nova trajetória de Billy; acrescenta e altera o passado sem desvirtuar aquilo que reconhecemos como característica básica do personagem.

Shazam merece ganhar uma revista própria e voltar a ser lembrado como um dos maiores super-herois de todos os tempos. Eu agradeço a Geoff Johns por essa façanha, embora sua passagem no novo título da Liga da Justiça até o momento tenha sido tão controversa. Ele eleva a história a um patamar de possibilidades muito interessantes e recua em seguida. A descoberta da fonte dos poderes de Graves através dos deuses sombrios e os meios utilizados para consegui-los foram a ótima sacada dessa edição… uma ótica sacada administrada à conta gotas… de novo.
Geoff Johns e Jim Lee uniram um novo grupo, criaram novas explicações, e montaram todo um cenário propício para que tudo desse certo…
Então, o que raios está errado com essa equipe?

Gostei muito quando ele já de início colocou Darkseid como o inimigo principal e razão do surgimento da Liga no novo universo… mas, aquele era o Darkseid mesmo? Diálogos ruins, caracterizações distorcidas, destoando inclusive do que se vê no título solo de alguns personagens… A Mulher Maravilha de Brian Azzarello vai se tornar um novo marco na trajetória da amazona. O Aquaman do próprio Johns, em sua revista mensal, é um herói imponente que aprendemos a respeitar. O Flash de Francis Manapul (desenhista que se revelou ótimo escritor) nos surpreende a cada edição. O Batman de Scott Snyder está deixando os leitores atordoados com suas histórias detetivescas. O Superman de Morrison está sendo impecavelmente reconstruído para a geração “compro no comixology e leio no tablet” com base em suas raízes dos anos 30. Então, porque na Liga, Diana parece tão fútil, Aquaman tão destacado, Flash e Lanterna Verde agem como dois adolescentes irritantes, Superman parece um androide sem muito a dizer e Batman… aquele é o Batman mesmo?
Será que esse é apenas o começo lento de uma das melhores sagas já escritas da Liga da Justiça? David Graves se tornará um vilão que a Liga aprenderá a temer?
Qual é o truque, Geoff Johns?
Eu confesso que gosto muito dos desenhos de Jim Lee, mas sua arte tem estado especialmente desleixada nas últimas edições, deixando transpassar o cansaço ou talvez a simples falta de inspiração – ou motivação -  em desenhar a revista. Ele pode fazer melhor, e sabe disso.
Em várias resenhas eu venho dizendo que as histórias de Geoff Johns para a Liga estão lentas, econômicas, sem ritmo… mas sempre vislumbro nelas a possibilidade dele tirar um ás da manga e dar a volta por cima. A Liga da Justiça ainda vive, e a quero ver retomar todo o seu potencial que é comprovadamente espetacular.
Ainda estou esperando.

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